Os Diferentes Estilos do Japamala


O Japamala, uma ferramenta espiritual antiga utilizada para a recitação de mantras e práticas meditativas, é mais do que um simples cordão de contas. Por trás de cada conta, existe uma tradição cultural e espiritual, que moldaram a maneira como o Japamala é estruturado e utilizado.

Do estilo Zen ao Mantra, das tradições indianas às tibetanas, cada estilo oferece uma prática única na arte de contar contas sagradas. Neste artigo, exploraremos uma fascinante jornada através dos diversos estilos do Japamala e a simbologia associada a cada um deles.


Os estilos mais comuns e tradicionais

Nos japamalas, os "estilos" referem-se às diferentes estruturas e divisões utilizadas na disposição das contas, ou seja, cada estilo representa uma abordagem específica na organização das contas.

Tradicionalmente, as principais divisões do japamala incluem quatro estilos: Sem Divisões, Zen, Mantra e Tibetano. Cada estilo apresenta a sua própria estrutura. Poderão existir adaptações modernas e nuances (não me refiro aos colares de contas de estruturas duvidosas criados por artesãos que não sabem o que estão a fazer e que teimam em chamar de japamalas), refiro-me sim às adaptações criadas deliberadamente pelas diferentes escolas, filosofias e variantes espirituais, budistas e hindus, para integrar as suas práticas.

Neste artigo, exploraremos as estruturas originais.


Sem Divisões - A Prática Contínua

No vasto universo do japamala, o estilo Sem Divisões ou 108 Contas Seguidas emerge como uma prática meditativa direta e contínua.

Neste estilo, as 108 contas formam uma sequência ininterrupta, proporcionando uma experiência fluida e profunda na repetição de mantras. Não há pausas. A repetição de mantras é direta desde a primeira à última conta do japamala.

Esta abordagem simples é uma escolha para todos os praticantes que procuram profundidade na concentração e orientação contínua na contagem.

Amplamente apreciado, também, pelos praticantes de Ho'Oponopono, este estilo inspira os praticantes a mergulharem numa prática que exige foco e transcende as fronteiras entre o consciente e o inconsciente.


Zen - A Prática do Equilíbrio

"Na prática do Japamala, as divisões no estilo Zen são como pausas musicais na sinfonia da meditação, permitindo que cada nota ressoe com serenidade." - Autor Anónimo

O estilo Zen destaca-se como uma expressão única de harmonia e equilíbrio na jornada espiritual.

Estruturado da seguinte forma: duas divisões de 7 contas, duas divisões de 14 contas e uma divisão de 66 contas, é uma estrutura que oferece uma abordagem consciente de parar e iniciar a contagem do mantra para que o praticante experimente momentos de pausa e reflexão ao longo da prática meditativa. É um estilo que proporciona uma sensação de ritmo e equilíbrio na jornada espiritual, mesmo com as interrupções programadas.

Muitos praticantes, recitam o mesmo mantra com entoações diferentes em cada divisão para explorar internamente a profundidade e riqueza do mantra, beneficiando de uma experiência espiritual mais envolvente. Esta abordagem dinâmica adiciona, não apenas uma dimensão artística à prática, como aumenta a motivação e o foco, e também amplia a compreensão espiritual, enriquecendo a experiência. Alguns praticantes com vidas mais agitadas, optam por fazer a sua prática em três partes ao longo do dia, fazendo uso dos marcadores de pausa. Assim, entoam o mantra por sete vezes de manhã, catorze vezes à tarde e à noite, já com tempo para maior relaxamento, entoam o mantra por sessenta e seis vezes. É uma questão de organização pessoal e adaptação aos tempos acelerados que vivemos.

Ao escolher um japamala de estilo Zen, o praticante é incentivado a explorar as divisões, encontrando o seu ritmo pessoal, mas também a serenidade presente em cada conjunto de contas. A combinação harmoniosa com a respiração consciente, transforma esta prática numa experiência maravilhosa de conexão com o Eu Interior seguindo o caminho da serenidade e da paz interior.

"Ao seguir as divisões do estilo Zen no japamala, aprendemos que a verdadeira serenidade reside na capacidade de encontrar paz, mesmo nas pausas aparentes da vida." - Autor Anónimo


Mantra - Sintonizar a Alma com a Frequência Divina

O estilo Mantra destaca-se como uma sincronia harmoniosa entre a repetição sagrada de mantras e a procura pelo Eu.

Estruturado da seguinte forma: duas divisões de 21 contas e duas divisões de 33 contas, este estilo proporciona uma jornada meditativa onde cada conjunto de contas representa uma fase distinta no caminho espiritual do praticante.

O número 21 está associado ao período de tempo que o ser humano necessita para criar um hábito e consistência nas suas práticas espirituais, mas também à crença de que repetir um mantra por 21 vezes energiza a intenção ou o mantra entoado. Já o número 33 está associado aos níveis mais elevados da consciência e é considerado um número mestre. Simboliza a conexão entre os reinos físico e espiritual e a transformação e crescimento pessoal. Acredita-se que também esteja relacionado com as 33 formas/manifestações da grande deusa da compaixão, a Divina Mãe Kuan Yin.

Este estilo oferece uma contagem constante do mantra tornando a prática focada e ritmada abrindo portas para estados mais elevados de consciência. As divisões deliberadas no final de cada conjunto de 21 e 33 contas, são como degraus ascendentes que conduzem o praticante a níveis mais profundos da compreensão espiritual e ao alinhamento das suas vibrações com a frequência Divina que permeia o Universo.

"Lembra-te constantemente que Deus está contigo, falando através de ti e agindo através de ti. Sintoniza a frequência do divino com a repetição do mantra, e encontrarás o Eu além do eu." - Paramahansa Yogananda


Tibetano - Sintonizar a Alma com a Frequência Divina

Um estilo muito significativo e valorizado pelos praticantes e que tem profundas raízes nas tradições espirituais tibetanas.

O estilo Tibetano apresenta uma estrutura muito constante que consiste em quatro divisões de 27 contas cada, o que proporciona uma sequência de repetições de mantras de forma estável, envolvida num ritmo compassado e harmonioso.

Cada divisão representa um ciclo no caminho espiritual que transcende as fronteiras entre o mundano e o Divino.

Segundo o texto budista Buddhavamsa, o número 27 simboliza a vida do Buda Gautama e dos 27 Budas que o precederam, incluindo o futuro Buda Maitreya. Noutras filosofias e tradições budistas, acredita-se que o japamala tibetano com as suas 4 divisões de 27 contas simbolizam as Quatro Nobres Verdades que representam o pilar dos ensinamentos budistas e os 27 Budas segundo o Buddhavamsa.

Ao escolher um japamala de estilo Tibetano, o praticante é guiado por uma sequência harmoniosa de repetições, cada uma marcando um ciclo no seu caminho espiritual. Esta escolha invoca, não apenas, uma conexão com o sagrado, mas também proporciona uma experiência meditativa profunda e enriquecedora. Assim, a singularidade e a riqueza simbólica do estilo Tibetano oferecem uma experiência única para aqueles que pretendem uma prática meditativa mais profunda e conectada com as tradições espirituais tibetanas.




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